📝 Opinião | A COP 30 precisa falar sobre educação financeira se quiser acabar com a fome

Opinião: A COP 30 precisa falar sobre educação financeira se quiser acabar com a fome - Olhar Cidade

Nos últimos dias, tenho acompanhado com atenção as falas do presidente Lula sobre a COP 30, que começa hoje em Belém do Pará. Ele tem dito que o Brasil voltará a ser exemplo no combate à fome e na luta contra a desigualdade. Concordo com a urgência desse tema — afinal, ver gente passando fome em um país tão rico é algo que deveria nos envergonhar coletivamente.

Mas, como autor de livros infantis, eu não consigo deixar de pensar: de que adianta colocar comida no prato se não ensinarmos as famílias a garantir o alimento de amanhã? A fome é um problema urgente, sim, mas também é um sintoma da falta de educação financeira, de planejamento e de conhecimento sobre como lidar com os próprios recursos.

Educação financeira é um ato de soberania

Acredito que a verdadeira independência de um povo começa quando ele aprende a administrar o pouco que tem. Não é uma questão de elitizar o debate, mas de democratizar o conhecimento. Quando uma família entende o valor de cada real, quando ensina o filho a poupar, a planejar e a fazer escolhas conscientes, ela dá um passo rumo à liberdade — não apenas financeira, mas também social e emocional.

Por isso, quando ouço os líderes mundiais falarem em “transição justa”, “economia verde” e “sustentabilidade”, eu penso: não existe sustentabilidade sem educação financeira. É impossível cuidar do planeta se não sabemos cuidar do nosso próprio bolso. É impossível falar em igualdade se não ensinamos desde cedo o valor do esforço, do planejamento e da partilha.

As Três Capivarinhas e o poder de ensinar brincando

Foi com esse propósito que escrevi o livro **“As Três Capivarinhas”**. Nele, três personagens — Ana, Márcia e Cláudia — encontram pedrinhas de ouro e aprendem a diferença entre gastar, poupar e investir. A história é simples, mas carrega uma mensagem poderosa: a prosperidade não nasce do que a gente tem, e sim do que a gente faz com o que tem.

Mais tarde, escrevi **“As Três Capivarinhas e a Festa Junina do Bosque”**, uma continuação que mostra como uma comunidade inteira pode prosperar quando se organiza e coopera. Cada barraca da festa é um pequeno empreendimento, cada personagem tem uma função, e todos entendem que a alegria só é possível quando há equilíbrio entre o trabalho e a partilha.

Essas histórias têm sido trabalhadas em escolas e famílias, e eu percebo como as crianças entendem com naturalidade o que muitos adultos ainda resistem em aprender: dinheiro não é um tabu, é uma ferramenta de liberdade.

Fome não se combate apenas com comida

Eu nasci em Matupá, no Norte de Mato Grosso, cresci no lixão, onde trabalhei dos 7 aos 15 anos e conheço a realidade da escassez. Vi de perto famílias que, mesmo recebendo ajuda, voltavam a passar fome pouco tempo depois. Não por falta de esforço, mas porque nunca tiveram a oportunidade de aprender a administrar o que recebiam.

Por isso, quando ouço o presidente dizer que quer acabar com a fome, eu penso: precisamos ensinar as famílias a não dependerem eternamente do Estado, e sim a prosperarem com dignidade. Combater a fome com programas sociais é necessário, mas combatê-la com educação financeira é transformador e duradouro.

COP 30 é uma oportunidade de mudar o discurso global

A COP 30 será um marco para o mundo, e o Brasil tem a chance de mostrar que sustentabilidade também é saber usar bem o que se tem. Sustentabilidade é gastar com consciência, poupar com propósito e investir em educação — inclusive a financeira.

Se queremos um planeta sem fome, precisamos começar dentro das casas, nas conversas de família, nas escolas e nas pequenas comunidades. É ali que nasce o entendimento de que o dinheiro não é o fim, mas o meio para uma vida digna, equilibrada e sustentável.

E é por isso que defendo que a educação financeira das famílias deve ser pauta central na COP 30. Porque quando uma mãe aprende a controlar o orçamento, ela não apenas garante o alimento de hoje — ela garante o futuro de seus filhos. E talvez, nesse dia, possamos finalmente dizer que o Brasil venceu a fome, não apenas com pratos cheios, mas com mentes conscientes.


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